Em Portugal existem 159 espécies em risco de extinção, entre as quais o lince ibérico e caracóis da Madeira e dos Açores, segundo a Lista Vermelha divulgada hoje pela União Internacional para a Conservação da Natureza
Na edição de 2008 da Lista Vermelha das espécies ameaçadas, Portugal aparece com 159 espécies em risco de extinção. A maior parte refere-se a 67 espécies de caracóis da Madeira e dos Açores. A seguir vêm 38 espécies de peixes e um total de onze mamíferos, onde está incluído o lince ibérico.
O mesmo estudo adianta que metade das espécies de mamíferos em todo o Mundo está em declínio e uma em cada três encontra-se ameaçada de extinção. De acordo com a Lista Vermelha da UICN, há 1.141 mamíferos em risco de extinção, o que equivale a cerca de 21 por cento das 5.487 espécies conhecidas.
Existem também 836 mamíferos cujo estado de conservação "ainda não é bem conhecido", precisa o relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza, o "mais completo até agora realizado sobre esta classe de animais".
"Na realidade, o número de mamíferos ameaçados de extinção pode chegar aos 36 por cento", estima Jan Schipper, especialista da UICN e um dos principais autores do artigo, que quinta-feira será publicado na revista norte-americana Science.
Realizado por mais de 1.800 cientistas de mais de 130 países, o documento lembra que "centenas de espécies podem desaparecer" nos próximos anos devido ao impacto do Homem nos ecossistemas destes animais.
Adianta também que, pelo menos, 76 espécies de mamíferos desapareceram desde 1500 e que o impacto do Homem e a pesca excessiva ameaçam actualmente "36 por cento dos mamíferos marinhos".
Segundo os dados da UICN, das 44.838 espécies estudadas pelos especialistas desde 1996, um total de 16.929 estão ameaçadas: "3.246 encontram-se em perigo crítico de extinção, 4.770 em perigo e 8.912 são vulneráveis ao desaparecimento".
A perda do habitat natural e a sua degradação - que "afecta 40 por cento destes animais em todo o Mundo" -, a sobre-exploração dos mamíferos terrestres e marinhos, a poluição e as alterações climáticas são as principais causas apontadas para o que o estudo chama de "crise de extinção" dos mamíferos.
No artigo a publicar esta semana na revista Science, os especialistas internacionais sublinham que 188 mamíferos estão integrados na categoria de ameaça máxima, em "perigo crítico de extinção", incluindo o lince ibérico, cuja população "é de apenas 84 a 143 adultos".
O "declínio contínuo da população" de linces, considerado actualmente o felídeo mais ameaçado da Europa, deve-se, segundo a UICN, à "escassez da sua principal presa, o coelho europeu".
Entre as espécies que mais perigo correm, o estudo destaca também o gato ou felídeo pescador de Ásia (passou da categoria "vulnerável" para "em perigo" devido a destruição de seu habitat), a foca do Mar Cáspio, cuja população caiu 90 por cento em cem anos devido à caça, e o veado do Padre David, que já não existe em vida selvagem.
Apesar destes dados, os especialistas da UICN lembraram que "cinco por cento" dos mamíferos ameaçados "demonstram sinais de recuperação em estado silvestre", graças a diferentes programas de conservação.
Segundo a UICN, também os anfíbios atravessam uma séria crise de sobrevivência. Praticamente um em cada três espécies que existem no mundo corre o risco de se extinguir.
Para Andrew Smith, co-autor do artigo e professor da Universidade norte-americana de Arizona, a Lista Vermelha pode e deve ser utilizada para "criar estratégias que abordem a crise", ajudar a "identificar espécies e áreas prioritárias para conservação" e "indicar tendências sobre o estado de conservação ao longo do tempo".
Os resultados do estudo foram apresentados no Congresso Mundial da UICN, que decorre até 14 de Outubro, em Barcelona, Espanha.